Domingo de sol morno e céu muito azul com algumas nuvens de algodão aqui e ali. Em casa Lucas, líder de uma equipe de nove funcionários, acaba de sentar à mesa para almoçar com a família. Vão degustar filé mignon com molho de gorgonzola, salada verde e batatas assadas. Aquele é um dia atípico. Com sua vida profissional agitada e estressante, raramente consegue fazer uma refeição com a família. Aproveita, então, para colocar a conversa em dia com a sua esposa Jane e os dois filhos do casal. Logo de cara descobre que Jonas, o mais velho, prestes a concorrer a uma vaga no ENEM, está tendo crises de ansiedade, o que vem preocupando Jane. Surpreso, Lucas olha para o filho e procura saber quais os motivos para ele estar “daquele jeito”. Antes mesmo que o menino responda Lucas aconselha, que ele vá logo se acostumando porque aquilo é só o começo. Que a vida é assim mesmo. “Queria ver você na minha pele! Aturar tudo que tenho que aturar no trabalho! Você já teria morrido faz tempo!”. E antes de dar mais uma garfada no seu filé malpassado, vira-se para a esposa: “Você está fazendo algo a respeito? Esse menino tem de melhorar, senão, como vai ser? Vai repetir de ano?”. Sem levantar os olhos do prato, Jane comunica que o filho já está fazendo terapia e que vem tendo progressos. Lucas ergue as sobrancelhas e mete mais um naco de carne na boca. Em seguida consulta seu celular. Começa a digitar uma mensagem. Carol, a mais nova, se mostra entediada com aquele almoço e, em especial com o assunto. Ultimamente a mãe não fala outra coisa que não seja a crise de ansiedade do irmão e o ENEM. Lucas, com ares de preocupação, pousa os talheres no prato, levanta com o celular em punho, cara enfiada na tela, e vai para a saleta ao lado. Do outro lado da cidade Bianca, uma das funcionárias de Lucas, participa de um animado churrasco com amigos, dentre eles Maurício, seu colega de trabalho. Carne da melhor qualidade, pão de alho na brasa, acompanhamentos apetitosos e muita cerveja gelada. Eduardo, que lidera uma equipe de treze funcionários na mesma empresa, está em um restaurante com a família. Gostam de, aos domingos, saírem para almoçar fora. Naquele dia a escolha do restaurante não foi das mais fáceis. As preferências gastronômicas eram as mais variadas. Depois de algumas sugestões e muito papo, optaram por um restaurante que atenderia a todos os gostos. Escolheram uma mesa e fizeram seus pedidos após checarem o cardápio. Alice, a filha mais velha, está acompanhada de Tiago, seu namorado, que já é considerado da família. Foi recebido como um filho. Clara, a mais nova, se mostra muito falante e divertida como de costume. Débora, esposa de Edu, como ele é chamado, está visivelmente feliz. Ela e o marido sempre reservam um tempo para estarem todos juntos. Seja nas refeições, passeios ou viagens. A conversa segue animada, os pedidos chegam e os pratos são servidos. Fazem um brinde, como de costume, e começam a comer. E a tarde segue nesse ritmo. . Bianca está feliz da vida. Aqueles encontros com os amigos são super energizantes. Muito papo, muito riso, muita diversão. Sente que sua alma fica leve. Todo o estresse do seu dia a dia no trabalho fica congelado em algum lugar distante daquela roda animada. Lá pelas tantas Maurício, seu colega na empresa, comenta sobre seu trabalho. Acabou de pedir transferência de área e está muito satisfeito. Seu gestor é “um cara muito legal”, diz com um largo sorriso. “Edu está me dando uma força incrível! Não deixa minha peteca cair. Quando vê que eu estou enrolado me socorre super de boa.” Pedir essa transferência foi a melhor coisa que fiz na vida! Já estava pelas tampas com o Lucas! O cara DELARGAVA as coisas, não estava nem aí como a gente estava se saindo, sempre que eu procurava por ele pra tirar uma dúvida dizia que estava ocupado; e depois ainda reclamava pra caramba que o trabalho estava todo errado. Um chefe de bosta, isso sim! Tenho pena de você, Bianca! Aquilo ali não é chefe. É carma! Não sei como você está aguentando!” Bianca, com um sorriso amarelo e atravessado, meneou a cabeça concordando. Sabia exatamente o que o Maurício estava falando. Ainda sentia na carne toda aquela pressão. Tinha dias que tinha vontade de jogar tudo para o alto, pedir as contas, dizer meia dúzia de verdades para o Lucas e sair porta afora. Mas não podia fazer isso. Precisava do emprego. E lá ia ela engolindo sapos e mais sapos. Já tinha um verdadeiro brejo no estômago o que resultou em uma úlcera. “Nem me fale, Maurício, o Lucas é um merda! Às vezes parece que vou explodir. Tudo nele me irrita: a voz, o tom irônico, os ataques histéricos e agressivos...tudo! Os melhores dias da minha vida são os que ele está viajando a trabalho”. . Bianca adorava o que fazia, mas estava por um fio. Não via outra saída a não ser tentar cair fora. Estava de olho em uma possível transferência interna ou em se mandar para outra empresa. Topava ganhar menos. Queria era se livrar de tudo aquilo que estava acabando com ela. Mas ainda não tinha conseguido nada. O jeito era ir levando. E se medicando. Ouvindo Maurício falar do Edu, ficou pensando que estava pagando um preço muito alto. Domingo já não podia nem pensar em ouvir a musiquinha do Fantástico que já estremecia. Começava a ter dor de cabeça e mudar de humor. Toda manhã levantar da cama era um suplício para Bianca. Precisava marcar o alarme para despertar às 6h, 6h5, 6h10, 6h15. Mesmo assim ainda tinha dias que não despertava e saía porta afora esbaforida. A última coisa que queria era dar de cara com o Lucas e ele fazer aquela cara de contrariedade com seu atraso. Se sentia injustiçada porque sempre compensava seus atrasos. Nunca o deixou na mão. Cansava de ficar depois da hora para fechar um relatório que dependia de alguns dados que ele passaria para ela. A situação tinha se agravado muito porque no mês anterior Bianca faltou dois dias seguidos e chegou atrasada outros tantos. Sua mãe foi diagnosticada com uma doença grave e crônica. Bianca precisou ficar a seu lado. Seu irmão mora em outro estado e o pai já é falecido. Nesse período Lucas ficou ainda mais intransigente, com a cara ainda mais amarrada e a repreendeu diversas vezes. Bianca pensou em explicar o que estava acontecendo. Como estava se sentindo, mas desistiu. “Ele não entenderia. Ele sequer me escutaria”. Esta é uma história de ficção. Qualquer semelhança com a realidade NÃO é mera coincidência. E a pergunta que faço no título deste artigo já fiz diversas vezes no início de treinamentos de Liderança que ministro. O impacto é sempre grande! Todos comentamos, em casa, sobre nossas atividades profissionais e sobre as pessoas com quem trabalhamos. Pessoas com quem passamos mais tempo do que com nossos familiares. Gestores que têm profunda influência em nossas vidas. Gosto muito da frase do Psicólogo Social Oscar Motomura : “A gente pode definir de forma muito complexa o que é ser um líder, mas pra mim é o cara que entende de gente. Ponto.” E você? O que você gostaria que seus funcionários e colegas dissessem sobre você em casa? Pense nisso. AutorAndréa Cordoniz - TEDx UFF speaker - Psicóloga - Escritora - Fundadora TD7 Treinamentos Corporativos
0 Comments
Leave a Reply. |
AuthorWrite something about yourself. No need to be fancy, just an overview. Archives
August 2021
Categories |